top of page
Buscar
  • ninapeckenham

A menina que não cresceu com cachorros


Há um mês atrás eu era outra. Cresci em uma das maiores cidades do mundo, em um apartamento pequeno demais pra muita gente dentro... Quem diria um cachorro!

Meus pais e avós não cresceram com cachorros. Minha família é extremamente ligada a limpeza, organização, limpar tudo com álcool, não misturar roupas brancas com coloridas, de criança com de adulto, não sentar no sofá de pijama, não entrar de sapato em casa... Assim eu cresci.

Me casei com um maluco por cachorros que, totalmente ao contrário de mim, cresceu ao lado deles, viveu em um sítio e dormia com a mesma roupa que cortava lenha durante o dia.

A vida da gente muda. Quantas vezes eu dizia "Deus me livre sair de casa com pêlo na roupa!", "Ai, credo, cachorro na cozinha..." e hoje estou aqui, escrevendo pra vocês.

Há um mês atrás minha vida estava vazia e eu nem tinha percebido ainda. Minha família consistia em duas pessoas e meu dia-a-dia era trabalho, casa, mercado... As minhas compras eram pessoais e o silêncio reinava quando e ficava sozinha.

Na minha casa não havia um cisco no chão, um lápis sequer fora de lugar e eu basicamente não andava a pé.

Há um mês atrás eu fui convencida a adotar um cachorro. No momento que pisei naquele abrigo eu não imaginei que minha vida mudaria completamente a partir daquele dia.

Eu me apaixonei por vários filhotes, mas não por esse: um cãozinho quieto, sob medicamentos, 4 anos de idade, olhar triste.

Bastou que o James trocasse um olhar com ele para que ele ficasse preso ali: parado, olhando pra dentro da "jaulinha" conversando com Lontana (esse era o nome do Bill, acredita?) quase que pelo olhar ou por alguma outra vibração que, só quem "é de cachorro" entenderia. Não eu.

Finalmente adotamos o Bill Clinton. Demos a ele um banho, um lar, uma coleira com seu nome. Eu demorei ainda uma semana (chorando!) para me adaptar a tudo. A nossa vida estava de cabeça pra baixo, nossos horários bagunçados, choro, latido, carta para os vizinhos, xixi no tapete...

O Bill Clinton, aquele que estava tão quieto na jaulinha do abrigo, era simplesmente o Pior Cachorro do Mundo. Comeu um chinelo, todos os brinquedos, roupas, caminha, coleira. Fez xixi no tapete, pulou em todos os vizinhos, não sabe andar na coleira, odeia tomar banho, derruba toda a comida fora do pote e tem ataques de loucura derrubando tudo que acha pela frente correndo excitado de um lado pro outro... Eu estava perdida! Nós estávamos.

Perdidos de amor. Hoje eu não sou mais a mesma. Minha casa não é a mais limpa, na minha sacola de compras sempre tem algo a mais, minha almofada e minhas roupas estão cheia de pêlos, meu celular cheio de fotos, meu programa de fim de semana é parque. Eu troquei "aquele restaurante" por "aquele restaurante dog friendly". Todo dia alguém vem me receber na porta, todo dia alguém me dá uma cafungada e uma lambida de manhã. Todo dia eu dou mais de mim e todo dia ele se doa por inteiro.

Eu entreguei uma parte do meu coração pra ele e ele entregou o dele todinho pra mim. Minha família não começará quando eu tiver filhos, pois ela já começou: ela é composta por James, por mim e pelo Pior Cachorro do Mundo.

Obrigada, Deus, por ter me dado o privilégio de encontrar o meu melhor amigo, digo, de ele ter nos encontrado.

:)


2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page